sábado, 30 de novembro de 2013
Conto perverso - EPÍLOGO
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Um conto perverso - PARTE III
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Um conto perverso - PARTE II
Um conto perverso - PARTE I
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Chuva
- Poxa, meu, vou chegar atrasado. – esta frase ele falou em voz alta, chamando a atenção de quem estava na calçada. Então continuou conversando consigo em pensamento: “Que mancada. Eu nem imaginava que ela fosse aceitar meu convite e agora essa: estou atrasado. Era só o que me faltava. E estou longe ainda. Imagine... É só subir a Brigadeiro inteirinha e ainda ter que chegar ao boteco. Tô ferrado, só isso. É muito azar, meu! Não é possível! Aí teve a história do celular. Quem imaginaria que ele iria cair na poça d’água. Eu sou um desastrado do caramba. Meu Deus, e como!. Vou pegar o celular e ele caiu bem dentro da fossa! Como um mergulho olímpico. Acertou bem no meio dela e eu fiquei com aquela cara de tonto olhando. Mergulhou inteirinho. Vontade de chutar ele lá no outro lado da rua. Mas tem o lance de você deixar secando por uns três dias e ele voltar a funcionar. É... só que daqui a três dias, seu ridículo, e claro que se fosse querer ligar deste aparelho ela já teria ido embora do bar há pelo menos setenta e uma horas e quarenta minutos. E você não tem o numero dela porque está no celular que acabou de morrer afogado. Parece piada. Eu sou uma piada. De mal gosto. Pra completar, quando você foi pegar o aparelho, com a raiva que estava, não viu que a poça era um buraco bem mais fundo e que ele estava na beirada, e, claro, você enfiou o pé até o joelho na poça, seu tênis ficou preso no fundo e sua blusa nova, de manga comprida, agora tem uma das mangas cor de barro. Um pequeno inventário, aliás: molhado feito um pinto que saiu do ovo, um tênis branco e o outro cor ocre – do barro – uma manga da camisa na cor do tênis. Daqui a pouco vão começar a te dar esmola ou vão chamar a polícia. E ela é tão demais; você ficou um tempão criando coragem pra falar. Aliás, levou tanto tempo que foi ela quem fez o convite, né? E agora nesta situação. Dá vontade de chorar mesmo. E se eu voltar pra casa e mandar um e-mail? Também é mal, porque você já está muito atrasado. Aí todas as suas chances vão para o buraco. Que coisa! Imagine a cara dela quando eu aparecer neste estado? Não tem nem o que explicar. Pareço um daqueles malucos de um hospício que fica no pátio na hora da chuva fazendo troça com a enfermagem e as visitas. Sem chance, meu. Ela vai me olhar e cair na gargalhada. Que vergonha. Vontade de sumir. Mas você é um homem ou um verme? Fale logo? Tem que ir lá e enfrentar. E essa subida é boa porque me deixa suado, mais ainda, e o desodorante vai sendo diluído. Um trapo fedido. Hoje está demais! Vai ser ótimo. Sem falar que ela, além de rir da tua cara, vai contar pra todo mundo. Bom. Isso eu acho que não, porque ela é gente boa. Mas vai rir muito da tua cara. Ai, meu Deus, que sina! Eu devia era virar um monge, fazer voto de castidade, qualquer coisa assim, mas não! Fico insistindo nisso de me amarrar em alguém. Também espere um pouco, que ela é demais. Então iria ficar pior: eu ia ser um monge que iria trair a batina e a igreja, porque eu seria tonto do mesmo jeito, só que de vestido de padre. Quarenta minutos. Ela vai me matar. Bom, ela nem deve mais estar lá me esperando. Assim, meio de semana, nove e meia da noite, levando um cano daqueles. Deve estar se sentindo o máximo esperando há tanto tempo. Imagine só. Só xingando mesmo. Ai, ai, o bar é ali naquela esquina. Meu Deus, olhe o seu estado. Não vão deixar você entrar no bar, só isso.”
Entrou no local bastante acanhado e percebeu que os garçons olharam meio incrédulos, meio indignados, que o fizeram esperar por ser barrado. Fez uma ronda por todo o ambiente e nada da garota.
“Que merda! Foi embora. Não sei se dou graças a Deus ou se choro.” – saiu desiludido e tomou o rumo de casa.
Uma hora antes, quando estava na Avenida Paulista, quase chegando à Brigadeiro, mandou um e-mail do celular: “E aí, tudo bem? Espero que não fique triste comigo, pois não vou conseguir chegar a tempo. Minha mãe me ligou e pediu para ir com ela ao médico e não tive como recusar. Tentei falar com você várias vezes e só deu caixa postal. A gente combina outra, tudo bem? Beijo”.
Colocou o celular na bolsa e foi para o ponto de ônibus.
“Imagine que vou deixar ele me ver desse jeito, com o cabelo todo espetado por causa desse tempo maldito! Nem morta, meu bem, nem morta! É só o tempo virar e fica essa coisa horrorosa! Tudo bem que fui eu que o convidei para sair, né? Mas mãe doente dá perdão fácil.”
domingo, 24 de novembro de 2013
Subir
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Só uma lâmpada
Era duro reconhecer, mas a escada já estava um pouco pesada para ele. Ninguém precisava ficar sabendo disto, mas o esforço era considerável. Ainda mais que ela seria devolvida ao seu lugar, naqueles ganchos altos sob a água furtada. A outra, de alumínio, nem chegaria perto da lâmpada queimada. Uma inútil mais leve, isso sim.
Tudo bem, nada de pedir para ninguém também. Todos tinham muitas coisas para fazer e não tinham que perder tempo com uma bobagem destas.
Com calma – não tinha alternativa – e muita manha, levou-a para dentro de casa até a sala de visitas, onde habitava a queimada lâmpada em questão. Nada menos que a uns três e meio a quatro metros do chão. Colocou a escada bem embaixo dela, tendo dispendido uma força extra para colocá-la nesta posição.
Olhou para cima, não se lembrando de quando tinha sido a última vez que subira tão alto e sorriu para si, desafiando-se a responder se, afinal, apesar de octogenário, não seria capaz de trocar uma simples lâmpada – a quatro metros do chão.
Subiu vagarosamente, com a lâmpada nova no bolso direito e pensou que não era uma boa tática, pois retiraria a queimada com a direita, então a nova teria que estar no bolso esquerdo. Parou durante a subida, já a sete degraus do chão e fez a troca. Olhou para cima e continuou. Ao atingir o último degrau com a mão, percebeu que a lâmpada estava um pouco mais alta do que havia imaginado e só conseguiria trocá-la se ficasse em pé sobre os dois últimos, que acima deles somente aquela haste de ferro, que tem um gancho numa das extremidades para se pendurar uma lata ou uma ferramenta. Subiu mais dois, ficando com meio corpo livre, mas ainda faltava quase um braços para chegar lá.
Não quis olhar para baixo, pressentindo a tontura. Venceu o medo e avançou mais um. Estava quase lá. Olhou para os pés evitando a todo custo permitir que o seu cérebro lhe desse a posição espacial exata de onde estava – o que os olhos não veem – e viu que os joelhos já estavam na altura do último.
Fez a conta: subo mais um direto com a mão direita na lâmpada queimada. Tiro a lâmpada, coloco no bolso direito e pego a outra, sempre olhando para cima e pronto.
Deu a volta com um pé no degrau do lado oposto, ficando com a escada toda entre suas pernas e fez um movimento lento e determinado de subida até seu alvo. Pegou-a. Sentiu um forte alívio. Desenroscou-a e neste átimo de tempo, quando ela se soltou do bocal, ele sentiu seu corpo solto no ar: o único apoio eram seus pés, que já estavam doídos e começando a tremer nos tornozelos. Imediatamente embocou a lâmpada no bocal novamente e ficou ali paralisado.
Vontade de rir e de chorar. A primeira por se achar um palhaço mesmo e a segunda por ser um velho, com limitações. Estas reflexões duraram minutos suficientes para sentir o braço começar a doer também. E a tremer também. Analisou sua situação: a mão direita sustentando seu equilíbrio no bocal, seu braço esquerdo solto, sem utilidade nenhuma, pois não havia o que segurar e suas pernas ficando cada vez mais cansadas. Nem pensava em olhar para baixo e abaixar-se para segurar-se na escada estava fora de cogitação. Naquela idade já não suava muito, mas sentiu um cheiro forte desprendendo de sua pele e começou a achar que estava em grandes apuros. A vontade de chorar foi ficando maior que a de rir, ou seja, o pânico avizinhou.
Estava no meio da tarde ainda e ninguém apareceria para ajuda-lo, com certeza.
O medo foi aumentando e a possibilidade de se machucar e sentir dor fazia se sentir muito humilhado e por último, para completar, aquela vontade de urinar. Na verdade a bexiga estava cheia mesmo. Doendo.
Se tinha rezado umas poucas vezes durante a vida toda, aquela foi uma ocasião para zerar suas dívidas com o divino, já que estava mesmo suplicando por um milagre.
Nisto, ouviu um pássaro voando dentro da sala com grande alvoroço, procurando a saída. Fazia um grande alarde, com as asas batendo nas paredes e emitindo sons de desespero. Não conseguia ver qual seria o intruso, mas era grande, um bem-te-vi talvez, e foi neste momento em que o incauto pássaro bateu contra suas costas e o susto foi tão grande que ele se soltou daquele tênue apoio quase sem perceber, tão rápida que foi a situação e quando percebeu, estava agachado nos últimos degraus, agarrado à haste de ferro.
E começou a rir muito, de não se aguentar, e o pássaro conseguiu saiu pela janela, rápido como entrou.
Quando desceu, constatou que a lâmpada nova ainda estava no bolso.
- Essa fica para outro dia – falou, indo para o seu quarto tirar uma soneca porque estava cansado demais.