Aquele garoto ali,
sentado no meio fio, olhando para tudo e para lugar nenhum. Segura com a ponta
dos dedinhos magros um saquinho de plástico com algumas balas dentro e parece
que tamborila a embalagem, aguardando o tempo passar e o semáforo fechar
novamente.
Usa uma camiseta
clara, encardida, um short escuro e chinelos de vão de dedos sem cor. Ele olha
ao redor e parece ter encontrado seu amigo, do outro lado da rua, jogando
futebol com algo que arremeda uma bola. Ele dá dribles, corre aos pulinhos como
um pardal.
O que está sentado
leva uma feição cansada consigo, de desânimo, de falta de esperança, que
combina com sua magreza, da fome crônica, porque a fome aguda dá uma cara
diferente, agressiva, de urgência, de desvario.
O sinal fecha e o de
lá pega seus saquinhos de doces e sai pendurando nos espelhos retrovisores dos
carros, esperando que alguém compre.
O outro continua
sentado, sem expressão e tamborilando. Olha para o chão, fala sozinho, remexe a
areia suja no meio fio.
Percebendo seu
estado, seu parceiro atravessa correndo, no meio dos carros, causando um furor
momentâneo, próprio do paulistano – compenetrado, apressado, ocupadíssimo – e
ao se aproximar, ele o pega pelos ombros, chacoalha, balança e acaba gritando
para um terceiro, que vejo sair do portão da casa abandonada. Vem com alguma
coisa nas mãos, e entrega ao garoto imóvel, ou quase, porque ele pega e traga.
Ato contínuo ele arregala os olhos e fica em pé num salto. Quer sair vendendo
suas coisas com o trânsito em movimento, um sorriso estranho nos lábios e os
outros dois o seguram achando graça.
O sinal fecha, os
garotos o liberam e a vida continua.
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