“Olha só
aqueles dois ali trabalhando naquela laje. São vinte e três andares, se tiver
as mesmas medidas do meu aqui. E tem o vento e a garoa. Eles pegam as caixas
que chegam pelo elevador e atravessam o espaço inteiro sendo açoitados pelo
vento frio, retiram as caixas do carrinho e voltam. Já estão nisto há umas duas
horas.
Eu já atendi
dois clientes, tomei uns cafés e eles estão ali ainda, trabalhando. Sem parar
não sei como não estão duros de tanto frio. E sou tão maníaco que acho que eles
estão reparando em mim. Parece piada mesmo.
E aposto que
são do nordeste. Pra aceitar um servicinho destes só precisando demais mesmo. Deviam
viver num calor dos infernos e estão ali sendo cortados pelo vento úmido e
gelado. Isto está me torturando. Dá dó de ver, coitados. Tenho até vontade de
fazer alguma coisa, mas fazer o que? Melhor fechar esta cortina. Assim eu fico
na minha. Sem dor é melhor.”
- Atenção
posto um, na escuta? Cacete! Que vento é esse, meu? – impacienta-se o policial
– Responde aí, posto um! Cambio, porra!
- Na escuta.
- Porra, meu!
Que demora! O alvo fechou as cortinas. Repito: o alvo fechou as cortinas.
Perdemos o contato visual. É melhor estourar o ninho agora. Copiou?
- Entendido.
Vamos invadir. E vocês podem sair dessa geladeira aí em cima.
- Vamos
descer, vem! Eu já não aguentava mais ficar levando essas caixas pra lá e pra
cá!
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