Ele chegou no final da fila com suas compras ocupando parte do
carrinho. Havia pegado poucos itens, mas de mais quantidade, cada um deles.
Notava-se, pelo seu andar, que o seu lado direito estava
prejudicado, pois quando andava, a perna fazia um movimento para fora, ao invés
de ser fletida; ele tinha que joga-la para fora, para que o pé direito não o
fizesse tropeçar. Além disto, seu braço direito era meio fletido, encolhido
junto ao corpo, e quando precisava de um movimento extra do carrinho, auxiliava
com este membro, ainda que com a mão fechada, como a socar.
A última pessoa na fila, olhou-o de relance quando chegou para
assumir a derradeira posição, e, ao sorrir como quem diz “oi”, notava-se que
sua boca estava desviada para o lado esquerdo. De resto, notava-se o grande
constrangimento de estar assim, pois imediatamente ao sorriso que deu, baixou
os olhos disfarçando.
Quem estava no caixa era uma senhora muito tranquila, passava
algumas coisas pelo caixa, e enquanto este registrava a venda, ela ia ensacando
vagarosamente os produtos que a funcionária ia lhe passando, e retornava para
passar outros mais, que ainda estavam no seu carrinho.
Enquanto isso, o homem parecia impaciente, ainda que discreto.
Olhava para os lados, como que a procurar um caixa onde a fila estivesse menor.
Parecia falar algo para si mesmo, a cada vez que procurava.
A mulher que estava à sua frente, e seria a próxima a passar pelo
caixa, começou a reparar no seu jeito. Não se incomodou, pelo contrário.
Aguardava pacientemente.
Quando a senhora que estava no caixa por fim pagou a conta, aquela
que seria a próxima, virou-se para o senhor e deu-lhe a vez.
Ele pareceu ter levado um susto. Emitiu um som brusco, como um
soluço, e sinalizou com a mão esquerda que ela fosse. Com um sorriso discreto
ela encostou ternamente a mão no seu ombro e disse que, por favor, ele passasse
primeiro.
Seus olhos marejaram a ponto de inundarem os olhos e fartas
lágrimas escorreram pela face. Tentou disfarçar o mais que pôde. Passou as
compras pelo caixa, pagou e saiu sem olhar para trás.
E o que lhe ocorrera foi que, ao chegar ao caixa, procurou um
lugar para se sentar, porque suas pernas doíam demais. Após ficar internado
mais de um mês, mais um mês se recuperando em casa, estava muito debilitado
ainda, mas, para provar que à sua família que já estava bem, teve o maior
trabalho para convence-los de que poderia ir ao supermercado só, pois daria
conta do serviço. Então, percebeu ali, no fim da fila, que estava prestes a
cair sentado no chão de tanta dor e moleza nas pernas.
Então surgiu aquela senhora que mais pareceu um anjo, lhe dando a
vez, mas ele não queira compaixão ou dó. Refutava esta ideia, mas ficou
sensibilizado ao se deparar com tanto carinho. Era só carinho, ele conseguira
perceber. Tentou agradecer, mas a língua ainda estava muito enrolada para falar
e explicar tudo ia demandar grande esforço. E o que conseguiu foi segurar o
choro.
Ao pagar o caixa, percebeu que, além da moleza nas pernas, ainda
tinha a vontade de ir ao banheiro que surgira de repente, e só faltava que aquelas
pessoas o vissem sujar as calças.
Que vida
complicada, pensou. Mas vai melhorar! Ah, vai!
ao ler o texto deu tempo de sentir q já melhorou, fiquei feliz
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